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                    OS 50 ANOS DE EMILINHA BORBA   
                    07-09-1990 
   
                    As viagens ao Rio de Janeiro criam a possibilidade de visitas ao teatro. A  programação já não oferece tantas opções como antigamente, mas sempre é  possível escolher do clássico ao experimental, do comercial ao vanguardista. 
                    Fui ver “Escola de Bufões”, de Ghelderode, um clássico francês, em montagem bem  cuidada. E a célebre Cida Moreyra, em “Porter a Porter”, um musical simples,  sem luxo, mas bem humorado, sobre a obra do genial Cole Porter. Uma voz  primorosa, rica e cálida! Traduções de Zé Rodrix, com recriações de bom humor e  boas adaptações  aos tempos atuais, sem  perder o clima de época. 
                    E também estive no Teatro Rival, em plena Cinelândia, para as celebrações do  cinquentenário de vida artística de Emilinha Borba. 
                    Quando eu era bem mais jovem, ela não estava entre as minhas “divas”, mas  reconhecia que estava entre os grandes fascínios da população... 
                  O público era, como previa, em sua maioria... donas de casa, artistas, gente de  cor, do subúrbio, homossexuais e travestis. E até  os políticos em busca de votos: o senador  Nelson Carneiro, candidato ao governo do Rio de Janeiro, arquejado pelos anos;  e o sorridente e saltitante Darcy Ribeiro, postulante ao senado pelas forças  brizolistas. 
                    
                  E as  fanzocas de sempre. Flores, faixas, troféus, presentes.  
                    Uma algazarra, aplausos, salvas e gritos de “é a maior!” 
                    Um frisson, um calafrio de emoção!  
                    Emilinha no palco, ovacionada!!! 
                    Todo mundo de pé, aplaudindo e gritando. Confesso que fiquei emocionado e até  senti um travo amargo na garganta e lágrimas nos olhos. Mas quem chorava em mim  era aquele garoto pobre que eu era, vindo de Nova Iguaçu, de trem, com os  centavos contados no bolso...  
                    À minha mente vieram imagens das filas gigantescas à porta da Rádio Nacional, o  auditório cheio de torcidas organizadas pelos fãs clubes de Emilinha e Marlene,  grupos rivais, com os nervos à flor da pele. 
                    Emilinha agora é um mito. Começou há cinquenta anos atrás, ainda menor de  idade, ao lado da Carmem Miranda, no antigo Cassino da Urca. Em plena época da  2ª. Guerra Mundial, ano em que eu nasci... 
   
                    Um repertório muito desigual, bem popular, com baiões e sambas, boleros e  canções românticas, arrematando nos sucessos de Carnaval, terreno em que foi a  campeoníssima! 
  “Chiquita bacana”, “Garota Bossa Nova” e “Pó de Mico”, marchinhas inesquecíveis,  em seu estilo inconfundível. 
                    Emilinha ainda canta com a mesma simplicidade e simpatia de sempre. Mantêm-se  fisicamente bem estruturada, nem gorda nem velha, com sua enorme cabeleira. O  rosto, com maquiagem, ainda conserva os traços conhecidos, populares, e seu  sorriso franco.  
                    Seus fãs envelheceram com ela. Ainda grava novas músicas, em estilo  tradicional, mas não consegue mais atrair as multidões, nem renovar seu séquito  de admiradores, salvo os curiosos (como é o meu caso...). 
                    Mas continua respeitada pelo seu passado de Rainha do Rádio e Favorita da  Marinha e, de tempos em tempos, é reconhecida e homenageada, sobretudo agora  com o relançamento de vários de seus discos, inclusive o primeiro em gravação  digital, laser.  
                    É possível que seus discos (agora) vendam pouco, principalmente os mais  recentes. Seu público mais fiel é o de poder aquisitivo mais modesto, fora do  mercado de consumo.  
                
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